29 de set. de 2005
Os atores principais
Se existe algo realmente justo é o fato de sermos os atores principais de nossas vidas. O lugar central onde o holofote foca é nosso, a trilha sonora mais bonita é nossa, o mocinho lindo com cara de sonso é nosso, as injustiças cometidas pelos vilões são conosco. O núcleo principal da novela sem Lurdinha ou Tião, a melhor atriz ou ator que não é nem Naomi Watts, nem Jamie Foxx. Direção independente longe de ser de Andrucha Waddington ou Sophia Coppola.
Nós por nós mesmos - o que somos. Sem a maquiagem reboque que nos disfarçaria as olheiras, espinhas e manchas de sol. Sem o batom que nos daria a boca de Angelina ou Daniela. Sem o rímel que nos transformaria em uma Twiggy tupiniqum.
Nós cara a cara com nosso mais profundo "eu". A única pessoa em todo mundo que esteve ali conosco no primeiro golpe de ar que recebemos e estará no último.
Daí se agregam mais pessoas. Os coadjuvantes: o amor de nossa vida, a família, nossos bichos de estimação, os amigos de verdade e os colegas de trabalho. Os convidados especiais (que farão apenas uma participação de impacto): todos os amores perdidos no tempo, os amigos esquecidos no decorrer do caminho e os vilões momentâneos que nos farão sofrer por algum período. Os figurantes: todos aqueles que nem sabemos que existem, mas que ainda assim estão na mesma fila do banco, no mesmo mercado e na mesma festa. E claro, o pessoal da equipe técnica: responsável por tudo o que vai aparecer de imprevisto em nossos passos (que nem sempre serão efeitos especiais), a chuva bem no dia da planejada praia, o pneu furado em plena rodovia, a visita surpresa no meio da trepada fenomenal, o telefone inconveniente na hora mais legal do filme...
Nossa história, sabiamente, inicia todos os dias sem que ninguém precise gritar "luz, câmera, ação". Pois mesmo que esteja escuro, trovejando, caindo raios, e que fiquemos por horas sentados olhando para uma parede branca, o enredo segue. Não tem pausa para retoques, não tem continuistas assessorando, não tem encaixe de texto, não tem chilique de estrelismo que pare a gravação. Tudo segue de improviso mesmo, e como grandes atores que somos tiramos tudo de letra.
Seguimos contornando o orçamento baixo, o figurino nem tão perfeito, o gênero que varia de drama à comédia - passando facilmente por terror e pastelão, com roteiro nonsense, uma produção mixuruca e edição inexistente.
Lá vamos nós. Fazendo papel de estrela do nosso espetáculo, coadjuvantes em outros, convidados especiais em tantos, figurantes em muitos e equipe técnica de alguns.
E tudo vale, menos: cutucão no olho, puxar cabelo, namorar ex de amigo ou amiga, odiar pai e mãe, trair quem confia em nós e PRINCIPALMENTE: Não vale sermos coadjuvantes de nossas próprias vidas. Pois deixar a vida nos levar só dá certo em pagode e olhe lá.
Postado por Tuka
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