Ou:
Putaqueopariu, Batman! O que essa louca quer dizer com isso?
Se tudo na vida tivesse um manual, das duas uma: ou ninguém leria porcaria nenhuma e seguiria tentando adivinhar o funcionamento das coisas, ou tudo seria robótico demais. Algo como:
Para que seu namorado te ame vá até a página 7.89865 e siga todos os procedimentos. Mas atenção! Em caso de dúvidas entre em contato com nosso 0800 que em até cinco dias úteis enviaremos um técnico. Eu sei que deveras facilitaria a vida de muita gente e nas mais diversas áreas. Imagine que maravilha achar todos os passos para uma vida profissional bem sucedida.
Para ser promovido leia tudo no capítulo 6.8875.87698.7766 e pronto! Se tiver feito tudo corretamente, dentro de três semanas, será o mais novo presidente de sua empresa. Parabéns!
Seria cômico? Trágico?
Ei, como você conseguiu um casamento tão bom? Fácil! Está na página tal!
Com o tal manual teria gente vendendo módulos de bolso, versões simplificadas, dando aulas intensivas de interpretação de texto, ministrando palestras, indo em programa de televisão para entrevistas...
Só que isso praticamente já existe! Basta olhar as prateleiras das livrarias que acharemos fácil vários clássicos que dão a receita: Como ser Feliz, Como se Tornar um Líder, Como Arrumar Marido, Liderança e Motivação, Multiplique seu Talento, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Veja Como é Fácil Ser Feliz e tantos... tantos outros.
Fico aqui pensando: será que realmente as pessoas que compram esses livros acreditam no que lêem? Será que de verdade elas acham que existe o passo a passo a seguir para se ter uma vida feliz? Para arrumar alguém que o ame? Para se tornar um líder? Duvido. Sério, duvido que acreditem apesar de comprarem. Sempre achei que a leitura desses livros fosse algo como: “estou ferrado, mas preciso de alguma forma me sentir normal, vou ler algo que faça isso por mim”.
Constatei isso definitivamente dia desses em um dos meus passeios a Fnac. Estava lá perdida entre tantos livros legais (que eu não teria dinheiro para comprar) quando uma mulher bem jovem chega a meu lado e pergunta:
“Você já leu este?” - (não lembro o nome, mas era algo como: Como Ser Feliz, Encontrar um Amor e se Dar Bem na Carreira). Eu disse que não e ela sorriu e falou: “
Eu também não, mas o levarei pra casa. Óbvio que não acredito em nenhuma dessas coisas escritas nesse tipo de livro, mas chega uma hora que a gente precisa de alguma coisa que nos inclua em algo. Como se me dissesse que se eu estou mal tem mais gente assim, ou nenhum desses livros seria best seller”. E arrematou: “
Você não acha?”.
Acho.
Acho sim. Mesmo que eu jamais tenha lido um livro desses.
Existem determinadas situações em que um manual de verdade viria bem a calhar. Caso existisse eu com certeza teria lido os capítulos:
- Como não namorar um perdedor por tanto tempo;
- Como não se indignar com chefes burros;
- Como não se importar com pessoas insignificantes;
- Como detectar amigos falsos;
- Como arrumar um emprego decente que te pague o que você vale;
- Como conseguir ganhar dinheiro fazendo o que você realmente gosta;
- Como deixar seu cabelo lindo (Sim, porque umas futilidades também são necessárias);
Como o tal manual não existe até que alguém o invente (nota mental: começar a pensar seriamente na possibilidade de publicar um), sigamos nós todos aprendendo com aquilo que achamos que devemos. Que sejam os livros de auto-ajuda, que sejam as próprias experiências, que seja o que quer que seja. Bastando, óbvio, que nos faça sentir igual a qualquer outro, ou se for o caso, diferente, mas ainda assim normal.