
Vou dizer algo aqui hoje que para muitos é inimaginável. Na verdade, é algo que até para mim um dia foi inimaginável: não vejo a hora de fazer 30 anos. Mesmo.
Quando mais nova achava que ao chegar aos 30 estaria no auge de minha existência e que a maioria de meus sonhos e projetos com toda certeza já estariam realizados. Eu teria uns dois filhos, minha casinha com quintal grande, uns cachorros correndo por lá, uns gatos preguiçosos deitados no sofá, um marido consertando o vazamento da pia e eu tendo que decidir minha próxima publicação. Esse tipo de coisa. Coisas que na mente de uma criança ou até de uma garota adolescente, são total e facilmente possíveis.
Conforme os anos foram passando, percebi que a vida na prática não combina com metas ilusórias que traçamos ingenuamente. Mas que bom que não me dei conta disso logo e me permiti sonhar. E como fui feliz com meus devaneios infantis: “um dia serei isso, um dia terei aquilo”. Ainda lembro da confiança de ter todo tempo do mundo para fazer qualquer coisa que eu imaginasse, algo que beirava a sensação de imortalidade.
Mas finalmente completar 30 anos não é algo que almejo apenas para colocar por terra toda aquela teoria da infância sonhadora, a farsa do ápice de meus dias. Finalmente completar 30 anos significará que de uma vez por todas eu deixarei de ser uma pessoa de quase 30! Sim! Eu tenho 28 anos, me tornarei balzaquiana em janeiro de 2008 e desde os 25 escuto que tenho quase 30. O mais interessante é que não lembro de com cinco anos me dizerem que eu tinha quase dez, nem de quando com 15 anos falarem que eu tinha quase 20.
Por quê afinal o mundo é tão inquisidor com as pessoas de quase 30 anos? Porque na verdade, minhas ilusões do ápice da vida nesta idade não eram prospecções exclusivas, é algo que existe ou existiu em cada um de nós. Um planejamento mental de que um dia teremos (ou teríamos) e seremos (ou seríamos) tudo aquilo que sonhamos. Um tapa na cara que nos dê a percepção de que não teremos todo tempo do mundo o tempo todo.
Portanto a cobrança é justificada, mas nem por isso menos injusta. Ter quase trinta significa que já vivemos o bastante para ter juízo, mas nem tanto, que já sabemos quem somos, mas nem tanto, e que enfim, já demos pelo menos uns bons passos em busca daquelas coisas todas que sonhamos em conquistar um dia.
A realidade que bate à porta nos mostra que todas essas convenções fazem parte da vida, sim. Mas levá-las tão a sério não vai fazer com que ninguém seja mais feliz.
Um dia, quando tiver 35, e, portanto quase 40 anos, volto aqui para contar que ainda não tenho, não sou e nem fiz tudo aquilo que achava que deveria em tal idade.
E querem saber de uma coisa? Nenhum de nós precisa levar uma vida louca e irresponsável, mas também não há motivos para sermos uma linha do tempo ambulante, cheios de metas e datas preenchidas na vida que ainda nem vivemos. O tempo passa para todos, todos envelhecemos, no entanto, o que pesa na balança no final das contas é tudo o fazemos enquanto achamos que a vida pode ou deve ser mais do que a que temos.
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PS1: Sempre acho que nada retrata tão bem a temeridade do ser humano pelos anos passando do que esta frase da peça publicitária
Wear Sunscreen:
"Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem".
PS2: Leiam
aqui um outro ponto de vista sobre a espera por Balzac escrito por minha amiga Carla.