Faz tempo que não falo a respeito de cinema aqui na Casa. O motivo é bem simples: nada do que eu assisti ultimamente me empolgou tanto a ponto de eu ter vontade de recomendar a alguém.
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Mas eis que vi Pequena Miss Sunshine - a estréia na tela grande de Jonathan Dayton e Valerie Faris saídos do mundo dos videoclipes. O filme não tem atores extremante famosos e não está passando em circuito comercial nos cinemarks e ucis da vida. Exatamente por isso é que a maioria das pessoas não ouviu falar dele e se o vir em algum cartaz por aí poderá deixá-lo passar batido.
Miss sunshine é uma antítese muitíssimo bem-humorada daqueles tão batidos filminhos americanos em que tudo dá certo para os personagens. Sabem a histórinhas de redenção em que os feios se tornam bonitos no final, ou em que os times repletos de pernas de pau ouvem frases de incentivo de seus treinadores e sempre vencem os craques? No filme em questão não há absolutamente nada disso.
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Aos sete anos, Olive adora participar de concursos de beleza mesmo que sua aparência definitivamente não se insira nos padrões presentes em eventos do gênero. Com enormes óculos de grau e uma linda pancinha (a atriz Abigal Breslin, de Sinais, usou uma roupa com enchimento), a garotinha sonha em ser miss. E a sorte a ajuda quando ela acaba sendo qualificada para participar do concurso que escolherá a Miss Sunshine.
É então que começa a história da viagem de uma família nada convencional para levar a pequena Olive ao concurso de beleza infantil. Em uma Kombi caindo aos pedaços seguem todos de Albuquerque, no Novo México, até a Califórnia.

Richard, o pai, é um fracassado motivador profissional obcecado pelo sucesso e por frases clichês de auto-ajuda. A mãe, Sheryl, é uma típica dona de casa desesperada cheia de preocupações com a família e, sobretudo, com seu irmão Frank, um gay, estudioso de Proust que acaba de sobreviver a uma tentativa de suicídio. Dwayne, o filho mais velho, é um adolescente rebelde, leitor de Nietzsche, em voto de silêncio e que odeia todos a seu redor. O avô (pai de Richard) usa a velhice para justificar suas crises de mau-humor e seu vício em heroína.
Com nenhuma pitada de família perfeita todos se unem em favor do sonho da caçula e na conturbada viagem vários acontecimentos fazem com que o problema de cada um deles seja confrontado.
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O roteiro envolve o espectador de corpo e alma ao alternar momentos hilários aos dramáticos e principalmente quando seus personagens dão suas caras à tapa enfrentando suas dificuldades no meio de uma sociedade que cobra tantos valores ridículos.
Pequena Miss Sunshine demorou cinco anos para ser produzido, pois seus diretores encontraram dificuldades para conseguir apoio financeiro de estúdios. Ironicamente, depois de ter sido exibido no Festival de Sundance - a principal janela do cinema independente norte-americano - teve seus direitos de exibição vendidos por mais de US$ 10 milhões. Somente nos EUA, rendeu US$ 55 milhões.
Ótimo filme: escrachadamente livre de padrões, sem lições de moral no final, nem reviravoltas impossíveis ou muito menos fábulas de bem contra o mal. Entrou em minha lista de filmes preferidos assim como todos os outros que fazem questão de ficar bem longe do comum. Assistam.