21 de nov. de 2006
A despedida do amor não correspondido
(Das cartas de Alice)
Então suma de uma vez por todas - eu lhe peço - pois já não sou mais capaz de muitas coisas, tantas que nem sei se posso enumerá-las. Tantas, que nem sei se algum dia você saberá de todas. Tantas coisas que já nem cabem em mim: vazam de meu corpo, transbordam de meu peito, escorrem até meus pés.
Não é exagero, é verdade. Tão verdade como agora é dia e logo será noite. Tão real como o fato de que não posso tê-lo comigo agora e nem nunca poderei. E que você, tão mais do que eu, sabe que o amor de um não é suficiente no mundo em que reinam juras mútuas de sentimentos eternos. Sim, este mesmo mundo que possui um espaço quase imperceptível entre o “te amo” e o “já te esqueci”, e que, ironicamente, é o mesmo mundo no qual você insiste em não me amar. E eu não quero amar sozinha como uma pessoa que clama discursos aos quais ninguém ouve. Não mais.
Sei que não sou capaz de tê-lo apenas em uma tarde chuvosa de sábado, dentro de algum lugar lotado – ou mesmo em algum lugar apenas com nós dois, pois você não estaria ali a meu lado. Sei que não sou capaz de controlar meu desejo por você a ponto de me contentar em beijá-lo enquanto sobra um tempo qualquer entre o que precisa fazer e o que quer fazer de verdade. Sei que não sou capaz de ter paciência para esperar que decida ver-me quando não resta absolutamente mais nada. Sei que não sou capaz de fingir não notar que seus pensamentos voam longe. Sei que não sou capaz de não ferir-me ao imaginar que não é meu corpo que anseia em seus braços.
Não quero mais o que já aprendi a amar como se tivesse amado por toda a minha vida. E estou abrindo mão do frio na barriga, de minhas fantasias, de meus desejos de ter você a meu lado, da vontade que sinto de ser sua, das conversas ao pé do ouvido que sequer ouviu, da cumplicidade de um olhar que sempre quis com você, das canções que quis que conhecesse, das poesias rabiscadas ao lembrar de seu rosto.
Abdico, e me despeço, do seu corpo, do seu olhar, da sua boca, da sua voz, da espera por você, da palpitação em meu peito. Abdico e me despeço da minha história a seu lado, dos meus pêlos arrepiados ao tocar-me, do meu corpo tremendo de desejos. Abdico e me despeço do que ainda nem vivemos e nunca viveremos. Abdico e me despeço do suor de meu corpo colado ao seu, da felicidade desmedida a cada encontro - que só existiu em mim. Abdico e me despeço das lágrimas de seus olhos que eu não deixaria cair e do riso sem pudores que ingenuamente mostrei a você.
Abdico de você em função de mim – e de um amor maior que deve haver por aí em algum lugar.
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Postado por Tuka
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