Dizem que todas as mudanças externas que acumulamos durante a vida nem de perto são tão grandes quanto as invisíveis, as internas. Mas será que realmente mudamos? Será que somos algo além daquilo que sempre fomos? As mudanças acentuam o que somos ou o que somos é que acentuam as mudanças?
O cabelo comprido, que virou curto, que virou vermelho que virou azul – mesmo assim os mesmos cabelos: os mesmos cachos ainda que alisados ou os mesmos fios lisos ainda que com permanente... O corpo que era magro, engordou, emagreceu novamente e possui vários pneuzinhos, que acumula oito tatuagens de uns anos pra cá, que ostenta uma enorme cicatriz perto do joelho direito – o mesmo corpo, a mesma pele, a mesma carcaça... O rosto limpo que já foi e hoje coleciona sardas e marcas de espinhas – ainda o mesmo rosto, com os mesmos olhos, a mesma boca...
As mudanças, sejam externas ou internas, apenas alteram aquilo que já somos, aquilo que já temos. Nada faz com que nos transformemos em novas pessoas, em seres com outra cultura, com outras lembranças, com outro passado. Nada tira de nós a vivência que tivemos até agora – nem uma perda, nem uma decepção, nem o aprendizado, nem nada.
A mudança acentua o que somos. E não há nada que mude a essência do que somos.
Somos uma continuação de nós mesmos, dia após dia. Ano após ano. Somos nosso próprio próximo capítulo, que tanto pode vir com aparência nova e outros aprendizados, como bater o pé e em vão insistir em permanecer ipsis litteris o de sempre.
Afinal o que somos se não uma mudança constante mesmo que não façamos idéia, mesmo que não queiramos?