Não gosto de Carnaval. Não adianta tentar me convencer, muitos já tentaram em vão. Não gosto do clima de abdução que os brasileiros ficam quando chega essa época. Parece que nada mais importa a não ser decidir pra onde ir nesses dias.
A pergunta freqüente: “E aí, pra onde vai no Carnaval?”. Gente, eu não vou pra lugar algum. Não vou pra praia nenhuma – todas estarão insuportavelmente lotadas com os carros estacionados com os capôs abertos tocando o funk da moda. Ou com muita sorte também uns axés. Também não vou pra nenhum retiro espiritual em montanhas ou desertos pra morrer de tédio tentando sem sucesso descobrir minha missão no mundo.
Vejam, eu bem que tentei fazer parte dessa histeria coletiva. Tentei usar a tática otimista: “Tuka, essa é a época em que o nosso país mais ganha dinheiro com turismo, nosso PIB cresce”... Mas desandou em : “Nossas crianças são prostituídas pelos gringos, a fama de país de peito e bunda se difunde”...
Sabem uma vez passei o Carnaval na Bahia! Ninguém pode dizer que não tentei! Fui lá no meio do trio elétrico e praticamente tive uma experiência de quase morte em que me vi como se estivesse fora de meu corpo. Foi o aconteceu, juro! Eu lá no meio das pessoas frenéticas dançando a Dança da Manivela e me vi do alto me perguntando: “menina o que raios você está fazendo aí? Você não tem mais o que fazer?”. Fora que já estava tremendamente irritada com toda aquela gente suada se esfregando em mim – e se existe algo que me deixa irritada e ainda mais chata do que já sou é estar perto de pessoas suando como porcos. Argh.
Teve também uma vez em que fui parar em uma prainha da moda. Todos empolgadíssimos aguardavam ansiosos o início do show do... tenho até vergonha... do... É o Tchan. Pronto, falei. Eis que depois de uma eternidade assistindo a apresentação de um grupo de lamba-aeróbica que ensinava ao público todos os passinhos das danças: da bundinha, da periquita, da perninha, do bracinho, do dedo mindinho e do pezinho esquerdo, surgem n
o palco Sheila Carvalho, Carla Perez, Jacaré e Cumpadi Uóxinton (que com certeza deve se escrever assim).
As pessoas entraram êxtase! Eu? Eu, caros, que estava ali para acompanhar uma amiga que acabava de levar um pé na bunda homérico, sentei em um canto e vomitei. Verdade. Como pouca desgr
aça sempre é bobagem, comi um espetinho de camarão que foi o responsável por um incrível revertério. Eu ouvia Cumpadi cantar de longe com toda aquela voz fenomenal e vomitava. Sheila e Carlinha dançavam e se rebolavam e eu vomitava. Jacaré requebrava até o chão e eu vomitava...
Sabem, teve um lado bom: depois de apenas meia hora e quando eu já via biles saindo de meu estômago, me levaram embora. Soube depois que o show durou mais umas 3 horas. Até hoje tenho fama de estraga festa, mas fazer o quê?
Portanto, que ninguém me venha com a máxima de que o Carnaval é legal. Carnaval é coisa do capeta. Eu vou ficar em casa, aproveitar São Paulo vazia, ver todos os filmes em cartaz, treinar e aprimorar novas posições sexuais com meu marido e assistir feliz pela televisão o congestionamento de volta pra casa que todo ano parece aumentar.