Nem tão cega para se achar feia e nem tão suficiente para se sentir linda. Nem tão seca para ser a magra que gostaria e nem tão untuosa para ser gorda. Nem preta - nem branca. Nem isso e nem aquilo. Ela é ela, sem maiores definições.
Ao se olhar no espelho enxerga os olhos envoltos pelas olheiras que, assim como física quântica, não consegue compreender jamais. Só que assim como vários, não faz questão de entender certas coisas, já o motivo das olheiras... Se dorme bem, estão lá, se não: seguem ali.
Seus cabelos ondulados e compridos que nunca eram mais curtos do que a altura dos ombros. Sua boca de lábios finos que definitivamente não faziam jus ao tamanho de seu sorriso. O nariz pequeno e meio pontudo demais que já foi seu grande complexo. As orelhas, sempre com brincos imensos, que obrigatoriamente sempre combinavam com a cor da blusa.
Nua, observa seu corpo como a um grande amigo, o que esteve com ela em tantas batalhas. Um aliado, que, se deixou-se cair, levantou tão logo pôde e mesmo assim manteve-se firme sempre que possível.
Aquela cicatriz no pé direito da queda do balanço aos dez. A eterna mancha da espinha cutucada perto do olho aos dezesseis. O joelho que ainda dói do tropeço na escada aos vinte e quatro. Eternas companhias uns dos outros: ela, seus erros e acertos e todas as marcas, físicas ou não, ganhas pelo caminho.
Muitas vezes segura, em outras medrosa, alguns momentos de mulher, outros de menina, possui dias em que dá colo, outros em que pede, tem horas em que em ri, inclusive de si mesma, e outras em que chora, tem momentos de ser ela e outros de se deixar ser qualquer coisa.