O telefone toca na noite de um feriado de segunda-feira. Do outro lado uma voz bem familiar, diz:
- Oi Tu, aqui é *****.
Deste, eu respondo surpresa, e, como todo bichinho feliz ao estar perto de alguém que ama, praticamente abano o rabo.
Do outro, a pessoa que está em outra cidade diz que está ligando para passar seu novo número de telefone.
Deste, eu saio correndo para pegar papel e caneta e anoto.
Do outro lado a pessoa começa a dar sinais do real motivo pelo qual está ligando:
- Estou puta com você, Tu! Eu não sou um ser abduzido, pós lobotomizado e alheio a tudo o que acontece ao meu redor!
Deste lado fico com cara de cu. Sei que ela está se referindo a este post
aqui. Tento amenizar a situação dizendo que foi só uma questão de licença poética, que, apesar de estar falando dela (já que não tinha como negar), estou falando de maneira genérica também, pois todas as mulheres que ganham bebês priorizam este momento, que sua vida muda, que as novidades da maternidade ocupam a maior parte de suas horas, portanto é natural que o pensamento seja 99% voltado a cria. Ou disse isso tudo ou pelo menos falei algo parecido.
Não colou.
Do outro lado, ela, minha amiga, formada, licenciada, pós-doutorada, professora universitária, inteligentíssima, sensível e magoada comigo, diz:
- Mas que porra nenhuma de licença poética, Tu! Licença poética é válido só em ficção, aquilo lá é uma crônica! Eu falo com conhecimento de causa, eu entendo disso!
Deste lado, eu, pensando que esses teóricos têm mesmo mania de categorizar tudo, mas como não sou louca de contrariá-la, fico bem quieta e peço desculpas, fui mesmo brusca demais.
Do lado de lá, ela disfarça a brabeza e eu do lado de cá me sinto a pior das espécies viventes da face da Terra. Mania besta de achar que meus amigos me conhecem tanto a ponto de saber que o que eu escrevo é tudo besteira (ela me conhece na vida real há dez anos, não é coisa de blog não).
Deus! Eles me levam a sério!
Então, deste lado, tento ficar lisonjeada. Afinal, ela é fodona, ela entende de literatura, entende de coisas da escrita e ainda por cima, apesar da minha falta de tato, do lado de lá, ela, com aquele jeito absurdo de ser ela, me diz:
- Tudo muito bem escrito por sinal, parabéns!
Do lado de cá? Eu, que além de muitas vezes insensata, estou longe de ser burra, corri me retratar. Afinal ela tem que saber que apesar de sua tentativa de convencimento para que eu ingresse na maternidade rapidamente eu a amo de qualquer jeito, que ela pode falar mil e quinhentas vezes das mesmas coisas que eu não me importo nem um pouco. Afinal, ela é ela. E se não fosse eu não estava nem aí.
OBS: Ponto para o marido futriqueiro que além do apoio moral a esposa, fez o serviço de delação completo lendo o post e avisando em seguida. Casal unido, minha gente! De quebra ganhei dois novos leitores assíduos que virão a esta Casa ao menos se certificar de que não falarei mais nenhuma besteira. Hohohohohohoho!