De todos os livros que já li na vida, Paula, de Isabel Allende, figura agora entre os meus preferidos. Eu já sabia da existência dessa extraordinária escritora naturalizada chilena, já sabia de seu envolvimento voluntário e involuntário na história política daquele país, já sabia que ela era a autora do livro que originou um dos filmes mais legais de todos os tempos: A Casa dos Espíritos. Sabia, aliás, muito pouco a respeito dessa mulher e nunca a havia lido. Uma pena, mas já diz o ditado que antes tarde do que nunca. E foi assim que agradeço ao fato de antes dos meus trinta anos, ter lido senão o melhor livro de minha vida, um deles.
Paula chegou até mim sem nenhuma cerimônia. Estava ali abandonado no criado mudo do quarto da minha irmã, e então, quando me dei conta já havia lido o suficiente para me apaixonar.
O livro conta várias histórias. Entre tantas está a de Paula, filha de Isabel, que entrou em coma profundo devido a uma doença confusa chamada porfíria (até mesmo depois de minhas buscas no Google, fui incapaz de compreender precisamente do que se trata a doença). Foram vários meses em que a escritora passou ao lado da filha e, enquanto isso, procurou conforto escrevendo cartas à moça doente que não podia sequer ouvi-la. Ela tinha esperanças de que ainda sua filha pudesse ler todas as palavras escritas durante todos aqueles dias e noites em que clamou por sua melhora: “Paula, escrevo para que quando você acorde não se sinta perdida, filha”. Mas após um ano, em 6 de Dezembro de 1992, Paula morre com apenas 29 anos. E não venham aí do outro lado me dizer que estraguei tudo falando isso, pois em qualquer crítica a respeito do livro é a primeira coisa que é contada.
É um livro delicado. Quase um diário que percorre a Isabel neta, filha, irmã, esposa e mãe. Fala do passado de sua família, dos amores, dos momentos e dos segredos da mulher de então 49 anos de idade. Tudo isso unido à dolorosa batalha na qual se encontrava a escritora diante da possível perda de sua filha. Um livro e uma verdadeira viagem ao interior de si mesma que, conforme afirmou a escritora, serviu de veículo para prolongar a presença da filha junto da mãe, para manter a vida que já a tinha abandonado desde o momento em que deu entrada no hospital, mergulhando no coma profundo.
Embora o livro trate de morte, precisamente da morte de um filho, não é sentimentalóide, mesmo que tivesse total permissão para sê-lo. Há nele também espaços para gargalhadas, reflexões e identificação.
Um livro absolutamente fascinante da vida de alguém que como qualquer um de nós, ama, sofre, chora, perde e recomeça.
OBS I: Isabel viveu no Peru, no Chile, no Líbano, na Bolívia, na Suíça, na Bélgica e na Venezuela e, há 16 anos, mora nos Estados Unidos. Ela faz 64 anos hoje, dia 02 de agosto.
OBS II: Existe outro livro de Isabel que pode ser confundido com esse que escrevi aqui: “Cartas a Paula”. Se trata de uma seleção de correspondências enviadas por leitores do mundo inteiro em apoio ao drama da perda de sua filha. Primeiro leiam Paula.