Em Campinas está acontecendo uma exposição de 20 obras de Romero Britto e estou com vontade de dar um pulo até lá para ver. Mas estou falando dele hoje, não devido a sua arte, que, aliás, admiro bastante, mas porque achei interessante a resposta que deu a pergunta de um jornalista da (argh) Época. Quando questionado se acha que é mais valorizado fora do Brasil, o pernambucano foi sucinto e disse: “Não. No Brasil as pessoas têm dificuldades financeiras e não conseguem comprar obras de arte”. Eu bati palmas mentais a ele pela frase.
Se existe algo que ouço muito no meu mundinho medíocre da comunicação, cheio de jornalistas intelectualóides (não confundam com intelectuais) e esnobes é exatamente a máxima de que o brasileiro é um povo burro, que não valoriza a cultura e que só gosta de lixo.
Mas me digam uma coisa, como é que uma pessoa que com o que ganha mal consegue sobreviver vai se dar ao luxo de entrar em uma livraria e comprar o lançamento de Gabriel Garcia Marques? Como é que vai deixar de lado o arroz e o feijão para assistir a um filme no cinema? Que grau de sanidade mental teria uma pessoa que opta por comprar um CD a ter dinheiro para passar o mês?
A cultura neste país é elitizada, não é pra qualquer um. Muito fácil abrir a boca na roda de amigos tabagistas no boteco, fazer cara de culto e dizer que brasileiro é burro. Que brasileiro não aprecia os seus artistas que lá fora são tão aclamados.
Talvez seja por isso que quando vejo a banda Calipso e Tati Quebra Barraco na televisão falando de suas casas em condomínio de luxo, eu tenha um contentamento inexplicável. Afinal, todos sabemos que merda de música eles fazem, no entanto cantam do povo para o povo, não têm pretensões de fazerem parte da nata da música e agradam exatamente aos excluídos da sociedade: os “pobres aculturados”. Eles tocam no rádio, fazem shows na periferia, em cidadezinhas perdidas no mapa – são acessíveis.
Chico Buarque, Marisa Monte, Paulinho da Viola, Bebel Gilberto? Estes fazem parte de uma realidade tão distante do nosso povo quanto a chance de terem uma vida digna. E quando não se tem dinheiro, infelizmente a cultura é algo supérfluo.